Nos últimos anos, os temas depressão, ansiedade, burnout e transtorno de pânico deixaram de ser tabu e passaram a ocupar as pautas mais urgentes dentro das organizações. A crescente pressão por produtividade, jornadas exaustivas, falta de equilíbrio entre vida pessoal e profissional, ambientes tóxicos e a ausência de apoio emocional têm levado muitos profissionais à exaustão mental e emocional.
Mas há uma condição muitas vezes negligenciada: o tédio crônico no trabalho. Estar presente fisicamente, mas sem se sentir desafiado, reconhecido ou estimulado intelectualmente, também adoece. Esse estado de desmotivação constante, conhecido como boreout, pode levar a baixa autoestima, sentimentos de inutilidade e até quadros depressivos.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país mais ansioso do mundo, com cerca de 9,3% da população sofrendo de transtorno de ansiedade. Além disso:
- 5,8% dos brasileiros têm depressão.
- A síndrome de burnout atinge quase 1 em cada 3 trabalhadores, segundo a ISMA-BR.
- O transtorno de pânico tem crescido, muitas vezes como reflexo de ambientes inseguros e hostis.
Esses dados reforçam um alerta: bons salários e benefícios não bastam. É preciso construir um ambiente de segurança psicológica, onde todos se sintam respeitados e acolhidos — inclusive aqueles que sofrem em silêncio com a falta de propósito ou engajamento.
Segurança Psicológica: Um Pilar Esquecido
A segurança psicológica é hoje um fator essencial não apenas para o bem-estar, mas também para a performance das equipes. É a sensação de poder falar, errar e pedir ajuda sem medo de retaliação.
Ambientes psicologicamente seguros são mais colaborativos, inovadores e saudáveis.
Uma pesquisa da Harvard Business Review mostrou que:
- Equipes com alto nível de segurança psicológica são 76% mais engajadas
- 50% mais produtivas
- E têm 27% mais chances de inovar
O Papel do Gestor
O gestor é peça-chave nessa transformação.
É ele quem está mais próximo da equipe e pode identificar sinais de sobrecarga, boreout, sofrimento emocional ou queda de rendimento. Um líder com escuta ativa e inteligência emocional pode prevenir afastamentos e desligamentos motivados por esgotamento mental ou desmotivação contínua.
Mais do que bater metas, o gestor moderno precisa saber cuidar de pessoas:
acolher, flexibilizar quando necessário e incentivar uma cultura de bem-estar psicológico.
Avanços na Legislação: A Importância da NR 1
A nova Norma Regulamentadora nº 1 (NR 1) representa um avanço ao incorporar diretrizes sobre fatores psicossociais e gestão de riscos ocupacionais.
Essa mudança reconhece a saúde mental como responsabilidade legal e institucional das empresas.
Isso reforça a importância de:
- Políticas internas de prevenção
- Treinamentos e apoio psicológico
- Canais de escuta ativa
- Cultura de respeito e acolhimento
Conclusão
Falar sobre ansiedade, depressão, burnout e tédio crônico no trabalho é uma urgência.
A segurança psicológica deve deixar de ser um luxo e se tornar prioridade. Os gestores, como líderes humanos, têm a oportunidade de transformar o ambiente de trabalho em um espaço seguro, saudável e produtivo.
Com o apoio de políticas como a NR 1, temos hoje um caminho mais claro — e mais seguro — para promover a verdadeira saúde mental nas organizações.